Para conversar sobre o relacionamento sem o momento virar mais um ponto de crise entre o casal, treinar as suas habilidades de comunicação é essencial.
Conversar sobre o relacionamento sem cuidados com a comunicação mais atrapalha do que ajuda, tornando ainda mais distante o objetivo de superar problemas na relação.
E se você pensa que só é necessário conversar sobre o relacionamento quando algo muito sério acontece. Engana-se.
É no dia-a-dia que os casais precisam desenvolver habilidades de diálogo no relacionamento.
Segundo o psicólogo David Buss os motivos que levam um casal a sentir incômodos que precisam ser expressos são bem comuns e acontecem em interações cotidianas.
Ele realizou uma pesquisa com 107 pessoas na Universidade do Texas e chegou a alguns dos motivos que fazem casais pensarem em conversar sobre o relacionamento.
São exemplos de situações que geram incômodos e precisam ser conversadas.
Pouco comprometimento com as tarefas da casa.
Falta de atenção com o outro.
Falta de diálogo.
Divergências sobre a educação dos filhos.
Mágoas acumuladas.
Comportamentos do outro que geram sentimentos conflitantes em nós.
Diferenças de opinião que geraram ruídos de comunicação.
E tudo isso acontece no dia-a-dia.
Você não precisa e nem deve esperar ter um motivo sério para dizer ao seu par que você gostaria de receber mais atenção, por exemplo.
Até porque, como ressalta o psicanalista Peter Ducker, no seu livro “Comunicação Aberta: Desenvolvendo a Cutura do Diálogo”:
“Comunicação e relacionamento são dois conceitos interdependentes. Para resolvermos problemas e superarmos desafios, nas mais diversas esferas da vida, necessitamos nos relacionar”.
Nada mais importante, então, do que desenvolver habilidades de comunicação que ajudem você a resolver os problemas ao invés de criar novos.
Como conversar sobre o relacionamento de forma positiva
Para conversar sobre situações que incomodam você na sua relação de forma positiva, em primeiro lugar é necessário entender o que costuma dar errado quando vocês iniciam um diálogo desse tipo.
Para ajudar você a pensar sobre isso, quero que imagine que está numa fase do relacionamento em que tem sentido falta de atenção do parceiro.
Você quer, então, propor que façam algo para se conectarem e quebrarem a rotina.
Então, você comunica isso a ele dizendo o seguinte:
– Amor, nós não temos mais tempo um para o outro. Isso é ruim.
Com isso, você sai, acreditando, feliz, que deu uma super deixa para ele fazer o que você espera.
Provavelmente agora ele vai te convidar para jantar, você pensa. Quem sabe até role aquela viagem adiada por tanto tempo.
Mas, sabe, a grande chance é que ele não entenda o que você quer pelo simples fato de…
Você não ter falado sobre isso.
Você não ter colocado claramente a sua necessidade de atenção.
Você não ter feito um pedido claro.
Essas são mudanças na forma de se comunicar que contribuem muito para você conversar sobre o relacionamento de forma consciente e positiva.
Mas precisa mesmo? Precisa.
Luis Mauro Sá Martino, no vídeo “Amar dá trabalho” reforça que construir vínculos, construir relações requer tempo e energia da nossa parte.
“Não temos tempo para construir vínculos como eles precisam ser construídos”, Martino diz.
O que pode ser um grande problema, uma vez que vivemos numa sociedade que não inclui o diálogo como parte da educação que recebemos em casa e na escola.
Nós simplesmente vamos repetindo os padrões de comunicação que aprendemos em casa, mesmo que não sejam os ideais, os mais amorosos, os que contribuam para entendimentos ao invés de desentendimentos.
Não estamos acostumados a nos comunicarmos com clareza, não recebemos esse ensinamento.
E para piorar, ainda temos milhares de crenças sobre o quanto alguém adivinhar o que sentimos ou queremos é sinônimo de amor.
“Ele me entende sem nem eu falar! Não é o máximo?”
Pode ser. Mas é raro. E não, não é amor. É apenas habilidade de empatia ou de adivinhação. Uns tem mais, outros menos.
Mas isso não significa que quem tem menos, ama menos.
Relacionamentos precisam de comunicação. Pessoas precisam se comunicar para se sentirem conectadas umas com as outras, ouvidas, reconhecidas, compreendidas.
Quando não falamos das nossas necessidades e nem fazemos pedidos, o outro pode interpretar mil coisas.
Por exemplo, nesse caso em que estamos tratando aqui, ele pode ouvir a sua parceira e receber a sua fala como uma crítica, fechando-se para a mensagem.
Pode também achar que ela quer que ele fique mais tempo em casa e até fazer ajustes na agenda para oportunizar isso, quando estar em casa é justamente o que ela não quer, no momento.
Pode também achar que ela está dizendo isso porque espera algo dele, mas não saber o que exatamente.
E por aí vai.
É necessário dizer o que precisamos e fazer um pedido claro. E a comunicação não violenta pode ajudar você com isso.
Você pode continuar a interação e dizer:
“Isso não está funcionando para mim. Preciso que pelo menos às quartas e sextas você chegue mais cedo em casa para eu poder ir à academia enquanto você fica com as crianças”.
Essas são mudanças na forma de se comunicar que contribuem muito para você conversar sobre o relacionamento de forma consciente e positiva.
A Comunicação Não Violenta como ferramenta para abrir o diálogo no relacionamento
A comunicação não violenta é uma excelente ferramenta para se conversar sobre o relacionamento porque propõe uma nova forma de nos relacionarmos.
Tal forma é capaz de ampliar a nossa capacidade de sermos ouvidos e, também, de oferecermos escuta ao outro.
Trata-se, portanto, de um novo paradigma para o relacionamento humano.
Ela nos ensina que por trás de todo comportamento há uma necessidade.
E que quanto mais você consegue criar empatia com o outro, mais se torna capaz de conversar sobre o relacionamento de forma eficaz, tratando dessas necessidades por trás dos comportamentos.
Isso significa que praticar comunicação não violenta nos ajuda a manter a conexão e a harmonia nas relações, mesmo quando precisamos conversar sobre assuntos difíceis.
Foi desenvolvida por Marshall Rosenberg e uma equipe internacional de colegas e está estruturada em 4 passos:
Observação.
Sentimento.
Necessidade.
Pedido.
Ao seguir esses passos, você vai conseguir conversar sobre o relacionamento de forma a…
Expor sentimentos sem culpabilizar o outro.
Assumir suas responsabilidades.
Falar sobre suas necessidades.
Fazer pedidos claros.
Retirar a violência da sua comunicação.
Para entender melhor sobre comunicação não violenta, sugerimos que assistam a entrevista com a psicóloga Sandra Caselato e o sociólogo Yuri Haasz.
Nela, eles explicam como essa nova forma de se comunicar pode cuidar da relação que estabelecemos com a gente mesmo e com os outros, permitindo vir a tona o que há de melhor em nós.
Ao chegar nesse ponto da leitura, imagino que esteja querendo entender melhor como conversar sobre o relacionamento utilizando esses novos conhecimentos.
Vamos a um exemplo.
Conversar sobre o relacionamento: prática da Comunicação Não Violenta em uma situação cotidiana
Para trazer a ideia do que nos falta quando nossa comunicação falha e de como podemos obter isso que falta, quero que você pense na seguinte interação.
Um casal está passando a tarde juntos. Ela já andava insatisfeita com alguns comportamentos do parceiro, os quais julgava como falta de atenção com suas necessidades e pedidos.
Note bem: ela julgava ser isso. Não haviam conversado.
E a seguinte situação acontece:
– Amor, você não está com fome, não?
(O Amor em questão está lendo um livro)
– Não.
– Mas nem daquela massa da esquina que a gente adora?
(Amor, ainda lendo um livro, só sinaliza com a cabeça que não)
– Vou comer alguma coisa, então, tá?
– Tá bom.
Enquanto prepara um sanduíche, ela repensa o acontecido e, num rompante, dispara da cozinha:
– Você não faz nada para me agradar mesmo!
E, Amor, que estava lendo um livro, vai se perder numa discussão de relação cheia de troca de acusações.
Agora vamos voltar no tempo e aplicar alguns princípios de comunicação não violenta a essa cena.
E se fosse assim:
– Amor?
(Certifica-se de que ele está ouvindo)
– Estou com fome e queria muito ir ao restaurante de massas da esquina. Vamos?
Amor poderia responder:
Sim.
Não.
Vamos depois que eu terminar esse capítulo?
Ah, massa não, que tal comida japonesa?
E a partir daí acordos se estabeleceriam.
O diálogo se abriria por 2 razões.
A primeira porque ele, de fato, estava presente naquela comunicação, estava ouvindo.
E a segunda porque ela conseguiu expressar o que queria.
Ela fez um pedido de forma clara, coisa que nós, homens e mulheres, não estamos muito acostumados a fazer.
Esperamos que o outro saiba do que precisamos, quando nem nós mesmos sabemos, muitas vezes.
E quando não recebemos o que sequer pedimos, nos ressentimos e criamos uma série de pensamentos destrutivos sobre o quanto a outra pessoa não se importa conosco.
Faz sentido para você? Já se percebeu vivenciando algo assim?
A Comunicação Não Violenta como solução para conversar sobre o relacionamento
Para resolver a sua dificuldade de conversar sobre o relacionamento, atente-se a essas 4 questões.
1. Ao invés de julgar ou acusar o outro, fale sobre fatos, sobre o que você observa.
Exemplo:
Ao invés de:
“Você não se importa comigo, não faz nada para me agradar!”
Você pode dizer:
“Eu queria muito que a gente jantasse juntos amanhã. Estou precisando disso. Gostaria de passar um tempo de qualidade com você”.
2. Ao invés de trocar ofensas, diga como se sente com aquela questão.
Exemplo:
Ao invés de:
“Você é muito egoísta mesmo, como eu pude ficar nessa relação por tanto tempo?”
Você pode dizer:
“Estou muito triste com o rumo que a nossa relação está tomando. Eu fico muito frustrado quando planejo um final de semana a dois, mas você prefere ficar em casa, fazendo as mesmas coisas”.
3. Ao invés de culpabilizar o outro, fale sobre o que você precisa.
Exemplo:
Ao invés de:
“Se você não priorizasse bem mais o trabalho do que a família, a gente não estaria com esse problema!”.
Você pode dizer:
“Entendi que não está ok para mim você fazer tantas horas extras. Fico sem apoio em casa, sem atenção, sem momentos em família. Isso não está funcionando para mim”.
4. Ao invés de encerrar o assunto deixando a cargo do outro resolver o problema, faça um pedido claro, que contribua para que vocês deem mais um passo na resolução do problema.
Exemplo:
Ao invés de encerrar a conversa com:
“Isso não está funcionando para mim”.
Você pode continuar a interação e fizer:
“Isso não está funcionando para mim. Preciso que pelo menos às quartas e sextas você chegue mais cedo em casa para eu poder ir à academia enquanto você fica com as crianças”.
Essas são mudanças na forma de se comunicar que contribuem muito para você conversar sobre o relacionamento de forma consciente e positiva.
Esse texto fez sentido para você? Esses aqui vão fazer ainda mais.
Falta de atenção no relacionamento: uma questão que pode ser resolvida com diálogo